O grito de Macabéa é silencioso, mas também ensurdecedor

Você pode “A Hora da Estrela” no Teatro Municipal em mais duas apresentações, neste sábado e domingo, às 20h.

Por que você deve assistir ao musical “A Hora da Estrela” Ou O “Canto de Macabéa”? Simples, precisamos compreender o que estamos nos tornando.

O espetáculo, estrito há quase cinco décadas por Clarice Lispector, conta a história de Macabéa, uma nordestina que compreende a vida da melhor maneira que consegue, mesmo com muito sofrimento, ingenuidade e sem muito conhecimento, ela, para evitar se sucumbir a dor, acredita, desde a infância, que tudo que passara é normal.

Assim, a personagem se desenvolve sem muitos questionamentos, apenas sobrevive.  Essa fragilidade faz com que Macabéa se apoiasse em crenças e sonhos para, quem sabe, um dia ser vista como um ser humano, uma pessoa que tem brilho.

Essa sensação de ser invisível ao mundo faz com que Macabéa seja facialmente ludibriada e enxergue a vida com um conformismo que assusta e incomoda, pois, nós queremos que ela dê esse grito de socorro e peça ajuda.

Essa realidade de Macabéa é confundida com a realidade de muitos brasileiros. E, mesmo depois de tantos anos, a obra de Clarice Lispector permanece cada vez mais atual. Infelizmente, o mundo evoluiu somente tecnologicamente, a essência do ser humano está se esvaindo e estamos nos enxergando sem brilho, sem valor ou, pior, estamos no colocando um preço.

É incrível como podemos estar em contato com o mundo inteiro e não ter tempo para nada e nos sentir sozinhos. Estamos no automático, perdemos a capacidade de olhar para o lado e ter empatia pelo outro. Confundimos individualismo com egocentrismo e estamos caminhando para o nosso isolamento interno.

É irônico que o mundo nos dá sinais, mas insistimos em manter a nossa engrenagem, tivemos dois anos para começar a nos reconstruir, mas ao invés disso, estamos voltando mais cruéis, acelerando a nossa destruição.

Em tempos em que não compreendemos as palavras, onde boa parte da população tem acesso à informação e, ao mesmo tempo pode estar conectada ao outro, e mesmo assim, não consegue se relacionar.

Queremos nos sobressair pela soberba da nossa verdade absoluta e acabamos por julgar, diminuir e por cancelar o outro. Estamos indo para um caminho em que a solitude passará a ser vista como algo nocivo e a solidão se transformará em uma doença emocional.

Precisamos do nosso momento, mas também precisamos nos alimentar do outro. A vida é uma experiência, ela é individual e também coletiva, não precisa ser solitária e completamente voltada para o eu, temos o nós e o eles para nos completar.

Macabéa busca alertar pela necessidade do grito individual de cada um, isso para que a sociedade tenha força e a capacidade para ecoa-lo  e transformar as suas mazelas de uma forma na qual o indivíduo seja respeitado por sua individualidade, ao mesmo tempo em que ele se sinta pertencente a algo maior. Fazendo com que a singularidade do indivíduo seja compreendida, aceita, respeitada e admirada por todos. Deste modo, seremos capazes de evoluir tanto individualmente quanto em grupo.

Você pode conferir este lindo espetáculo no Teatro Municipal em mais duas apresentações, neste sábado e domingo, às 20h.