Resultados orientam políticas e estratégias de prevenção e cuidado, beneficiando diretamente até um quarto da população brasileira clientes de planos de saúde
Implantado nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal desde 2006, o sistema Vigitel – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico – divulgou a mais recente edição do Vigitel Saúde Suplementar, que reúne dados coletados entre 2008 e 2023 com mais de 370 mil entrevistas a brasileiros beneficiários de planos de saúde. Os dados servem como base essencial para que operadoras, reguladores e gestores planejem ações de prevenção, fortaleçam a atenção integral e contribuam para a melhoria da qualidade de vida desse grupo, que representa cerca de um quarto da população brasileira.
O levantamento realizado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, em parceria com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), traz estimativas que colaboram com o monitoramento da frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas no país. De acordo com a publicação, o estudo é considerado de grande relevância para a saúde pública, pois atualiza as principais tendências e indicadores de saúde entre adultos beneficiários de planos privados. Segundo o relatório, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, foram responsáveis por mais da metade das mortes no Brasil – cerca de 730 mil óbitos em 2019, dos quais 42% ocorreram prematuramente (entre 30 e 69 anos). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), fatores como tabagismo, alimentação inadequada, inatividade física e consumo abusivo de álcool estão entre os principais responsáveis pela alta carga dessas doenças – todos passíveis de prevenção.
Na prática, os dados ajudam operadoras a repensarem seus modelos de atenção. Na Unimed Uberlândia, por exemplo, o estudo tem contribuído para consolidar uma mudança de foco: de um modelo assistencial tradicional para uma abordagem mais preventiva, coordenando o cuidado e priorizando hábitos saudáveis. “Através de levantamentos como o do Vigitel, vamos consolidando nosso planejamento de funcionar não como uma simples intermediária entre prestadores e clientes, mas sim trabalhar em uma mudança do modelo assistencial, compreendendo que hoje nos deparamos com o predomínio das condições crônicas”, afirma o CEO da Unimed Uberlândia, Francisco Tavares.
Entre as iniciativas, a operadora já estruturou linhas de cuidado específicas, como saúde do idoso, materno infantil, crianças neuroatípicas, câncer de mama e saúde mental, além de outras em desenvolvimento. Também investe em atenção primária à saúde, ações educativas junto a empresas e programas internos para incentivar a prática de atividade física e alimentação equilibrada. “Temos trabalhado fortemente para que o foco esteja na saúde e não na doença. Buscamos evoluir de um modelo reativo e hospitalocêntrico para um modelo de cuidado integrado que começa no estímulo aos hábitos saudáveis”, complementa Tavares.
O maior desafio, segundo ele, está em transformar informação epidemiológica em mudança real de comportamento. “Apesar de termos muitas informações, temos o desafio de sistematizá-las para transformar dados em conhecimento, de forma que as pessoas estejam sensibilizadas para mudar seus hábitos de vida. Quando falamos de condições crônicas, não é o tempo que a pessoa passa diante do médico que vai resolver ou controlar suas condições, mas sim os hábitos incorporados no dia a dia”, conclui.
A análise é resultado de entrevistas telefônicas realizadas anualmente com adultos de 18 anos ou mais que possuem plano de saúde privado. As entrevistas monitoram indicadores como:
- Frequência de tabagismo e uso de cigarro eletrônico;
- Consumo abusivo de bebidas alcoólicas;
- Excesso de peso e obesidade;
- Alimentação (frutas, hortaliças, ultraprocessados, feijão, refrigerantes);
- Prática de atividade física e comportamento sedentário;
- Cobertura de exames preventivos (mamografia, citologia oncótica);
- Diagnósticos referidos de hipertensão, diabetes e depressão;
- Autoavaliação negativa do estado de saúde.
Desde 2008, o Vigitel Saúde Suplementar identifica a posse de planos de saúde entre os entrevistados, permitindo análises específicas dessa população. Esta é a sétima edição dedicada exclusivamente aos beneficiários de planos, complementando as publicações anteriores de 2009, 2012, 2015, 2017, 2018 e 2020. A iniciativa conta ainda com apoio técnico de universidades como a USP e a UFMG.
Mais informações e acesso ao relatório completo: https://www.gov.br/ans/pt-br/assuntos/noticias/beneficiario/vigitel_brasil_2008_2023_saude_suplementar.pdf
Gustavo Lazzarini
16/07/2025

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