Os Titãs são extraordinários, redundante, não é mesmo? Não, eu reafirmo, eles são extraordinários! Como uma equipe ou de maneira individual, eles se destacam. Esse nome não os define por acaso, seja artisticamente ou pela resistência ou resiliência, nós encontramos motivos para admirá-los.

A força de jovens que construíram suas vidas tendo a cultura como uma base enraizada no seu desenvolvimento prova que a arte só nos traz enriquecimento. Imagina, no recreio da escola, você poder acompanhar Gilberto Gil, Nelson Cavaquinho, Cartola e tantos outros, além de ter na grade curricular aulas de diversas expressões artísticas. Assim, os Titãs foram se conhecendo e quem não estudava no colégio Equipe, mas gostava daquela efervescência, dava sempre um jeito de estar junto.
Desta forma, mentes brilhantes foram sendo despertadas e, de uma maneira desorganizada e impulsiva, porém democrática Arnaldo Antunes, Branco Mello, Ciro Pessoa, Sérgio Britto, Nando Reis, Paulo Miklos, André Jung e Tony Belloto se reuniram em 1983. Mas Ciro Pessoa saiu antes do lançamento do primeiro álbum, que seria lançado no ano seguinte. André, que tocava bateria, foi substituído por Charles Gavin em 1985. Assim, ficamos conhecendo uma das melhores bandas nacionais da história e, certamente, a melhor dos últimos 40 anos.

Nessas quatro décadas, esses jovens foram se completando e se descobrindo como multiartistas, além de músicos, temos escritores, historiadores musicais, atores, cartunistas. Assim, os Titãs foram marcando e encantando gerações.
Cantando de forma poética o seu crescimento. Hora com muito amor, hora expressando a sua revolta, hora mostrando a sua desilusão com a humanidade, hora buscando trazer uma esperança a essa mesma raça humana, ou apenas cantando as fases da vida. Com os Titãs, nós sentimos todos as emoções possíveis, podendo sentir todas elas ao mesmo tempo.
Harmonizar isso com 8 cabeças criativas é um exercício complexo, porém prazeroso, onde eles aprenderam, entre brigas e saídas, o poder do coletivo e o valor da individualidade, carregando sempre o carinho e o respeito, superando possíveis mágoas e consolidando a sua história como um grupo, mas ao mesmo tempo construindo, em paralelo, o próprio caminho.


Como todos beberam de várias fontes e todos encontram na arte o seu meio de vida, todos compreenderam o melhor que podemos desenvolver com a expansão da nossa mente, valorizando e cultivando os melhores sentimentos. Assim, o respeito e admiração à diversidade e a singularidade de cada um fortaleceram a relação e mantiveram os laços de amizade e amor, carregando de forma leve toda a história que construíram.
Por isso, esse reencontro é tão especial. Ver eles juntos como banda prova que é possível construir belas histórias, a partir de uma. Os Titãs voltaram com toda essa bagagem. Se uniram para celebrar a vida de todos, agora compreendendo e valorizando ainda mais cada noite.
Eles não voltaram por ego ou dinheiro. Esse reencontro mostra exatamente o contrario, eles voltaram, pois compreenderam a maturidade da vida e agora estão disfrutando dessa história. Os titãs são extraordinários porque o amor esmagou o ego, e a admiração superou as diferenças.
Se esse reencontro celebra a força de cada um, como não reverenciar o Branco Mello? Consagrado e uma das vozes mais icônicas do rock nacional, Branco canta a sua vida, celebra mais uma vitória e com uma atitude rock and roll segue sorrindo e cantando, agora com uma voz sensual. Branco sua coragem, luta, o seu amor pela vida e pela arte foram, pra mim, o principal combustível para esse reencontro.


Expor, da maneira como você expõe essa sua conquista, depositando energia no palco, comemorando cada acorde e celebrando a sua vitória com os seus amigos de uma vida, me levaram às lagrimas. Sei que todos têm uma história digna de um Titã, mas Branco é o maior símbolo desses 40 anos de estrada. Essa vitória contra o câncer foi mais uma luta vencida por você. Não há como descrever sua emoção com esse reencontro.
Todos têm a própria emoção, motivo e razão para fazer esse reencontro, mas todos estão unidos, seja de forma despretensiosa ou de forma inconsciente, para celebra o amor entre eles, mas ao mesmo tempo fazer uma homenagem ao Marcelo, por meio da sua filha Alice, e ao próprio Branco que respira vida e vive para a sua arte que se mistura com a arte de cada Titã.

Eu, que tive o privilégio de estar presente no último show, no Brasil, dessa turnê, pude sentir essa energia e espero que eles possam continuar. Uma noite em que composições de mais de 40 anos ainda ecoam como atuais e impactam diretamente a todos os fãs. Seja atacando a sociedade ou descrevendo o ser humano, os Titãs fincaram o seu nome como a maior banda brasileira dos últimos 40 anos.
Eu que vejo o ser humano de uma maneira singular e valorizo os sentimentos e as conexões humanas tenho medo de não me adaptar as inteligências artificiais, vejo o mundo como uma pangeia e não de territórios, para mim, somos de todos os lugares ou de lugar nenhum. Vejo que a nossa sociedade e a humanidade estão indo para um caminho perigoso, onde valores são confundidos com “valores”. E percebemos que é difícil confiar em alguém com 32 dentes. Assim, Jesus está sem dentes nos países banguelas. E, por isso a história de Marvin é tão comum. E, assim acreditamos que o acaso vai nos surpreender e aprendemos a idolatrar o último acontecimento da última semana.
Talvez, isso seja histórico com o “descobrimento do Brasil”. “Terra à Vista”, aqui o Senhores têm o poder de livrarmos dos pecados e de implantarem verdades fictícias, dificilmente o sol nascerá quadrado pra eles. A república dos bananas segue o seu ciclo e a selva de pedra traz muitos mensageiros da desgraça, mas sempre tem alguém falando e julgando sem parar.
O mundo está cheio de Marias e Josés , cheios de pecados e cansados das religiões, buscando soluções erradas e banalizando os sentimentos, procurando motivos para viver e, ao mesmo tempo lutando contra a depressão. Buscando em teorias a simplicidade da vida para poder chorar e sorrir. Por outro lado, cultivamos o ódio e valorizamos a vingança, será que vale a pena?
Será cedo ou tarde para repensarmos e recomeçarmos? Ou será que temos que descansar somente no domingo? Eu tenho medo de ficar burro demais, pois as telas são um vício sem cura e hoje a comida e a diversão ganharam outros significados. Perceberemos que a nossa cabeça é “igual” a do dinossauro, mas no fim, só bichos escrotos é o que vai ter e o nosso travesseiro será de flores por todos os lados, elas podem ser amarelas.


Nesses últimos parágrafos, busquei humildemente fazer uma reflexão breve de toda a obra dos Titãs de 1984 até 2018. Tentando externar a riquíssima trajetória da banda que toca em feridas existências, quebra padrões culturais, fala muita da falta dos sentimentos humanos, ao mesmo tempo em que tem belas poesias sobre o amor.
Os Titãs sentiram a evolução tecnológica e também demonstram sensibilidade ao tratar do futuro, sempre atentos a temas atuais como a diversidade, propagando a liberdade e questionando os nossos dogmas e os nossos medos.
Vocês provam e externam os seus momentos, as suas angustias e compartilham com a gente a nossa dor, as nossas dúvidas, os nossos medos e também os nossos melhores sentimentos. E nesse reencontro fez milhares de fãs compreenderem como evoluímos ou não nessas quatro décadas.
Muitos que não conheciam puderam sentir um turbilhão de emoções ao mesmo tempo, talvez tenham que esperar um pouco para processar tudo isso, mas no final compreenderão que os Titãs dizem o que muitos não sabem como dizer.
Ser um Titã é passar por todas essas fases da vida e depois de tanta história ser capaz de reunir, celebrar, sorrir e compartilhar entre si todos esses momentos, fortalecendo uma relação que nasceu com a música e que criou sentimentos como o amor e admiração mútuos que são sentidos pelos fãs a cada apresentação.
Vocês estão eternizados nos corações dos brasileiros.
